sexta-feira, abril 29, 2005

Na planura


Fotografia: zespinho

Enquanto a locomotiva tragava milhas na planície e para trás ficava o lar recém-formado (Beja, 1981).





Desci o cerro abolado
Crescendo pela planura sossegada
Escrevi o meu rasto na seara
Que o sol inclemente castiga


Chegara arrasado da saudade
E fui-me entregar ao ventre da terra
que paria farturas de trigo.

As espigas agitavam-se num aceno,
E o teu rosto voltava
E teus cabelos desciam como trigais na planície.

Então, pousei o ouvido junto
à pele queimada da terra
E ouvi o murmurar
suave de um ventre farto
de vida

E ao olhar a seara, condoído de mim,
Uma papoila vermelha
Silenciou a raiva da partida.

M. Guimarães

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