quarta-feira, novembro 07, 2007

Longa ausência

Pensei que seria o fim, mas afinal foi só até já. Assim se justifica esta longa ausência. Ver-nos-emos por aqui...

Uma questão de justiça


Estou indignado!

Mas não é que o programa era para um espectáculo de teatro, e sai-me na rifa um funeral?

Que Garrett descanse em paz, porque depois do que vi fazer à sua obra prima (Frei Luís de Sousa), não sei se o dramaturgo não terá sido assassinado durante mais 90 minutos.

Actus, assim se chama a trupe, mas seria melhor apodar-se de pré-actus, pois aquilo teve mais de ensaio de leitura corrida do que de uma verdadeira encenação. Uma esboço de encenação, representações tímidas, sem brilho nem talento, e só ninguém dormiu na plateia porque não se pôde calar a incansável tagarelice da assistência.

Mea culpa, assim não consegui motivar nenhum dos meus alunos para o drama de Garrett.


segunda-feira, março 26, 2007

Saudação à primavera



Subiu à rocha alcantilada
altar de sacrifícios lustrais
depois envergou a túnica de alvo linho
olhou no âmago de si
buscou a chave do seu enigma.
Voltado a nascente
convocou a luz quente dos astros
escutou o pulsar fértil da terra
brandiu o ceptro rutilante e mágico
e entoou os hinos do grande Início.
À sua frente jorraram fontes
brotaram folhas nos troncos nus
latejou o sangue de bichos esquivos
pássaros desvairados cruzaram o vasto céu.
Longe da cinza dos muros
ouviu-se a si na sua voz órfica.
Então cantou o esplendor da luz
a força densa da terra
o vibrar da vida
E tudo fixou nas variações do verbo.

quinta-feira, março 01, 2007

História de mulas e camelos

Os políticos servem-se e poderão também servir para alguma coisa.
Por vezes, no lodaçal, desabrocha uma flor. Seria bem interessante que mais flores por lá (o seu viveiro predilecto - o parlamento) se vissem, e não tantas «florzinhas»...
Mas a flor que ontem despontou é de um perfume raro, tresanda a conselheiro Acácio e outros espécimes.
E se a propósito de dramas sociais e humanos, como o do «desemprego», fôssemos mimados com chalaças de «mulas» e «camelos»?
Pois foi mesmo isso que aconteceu, ontem. O Chico do BE interpelou o Zé-Primeiro acerca dos números do desemprego em Portugal; e com a graça que o caracteriza aquele comparou o raciocínio do Zé-Primeiro com a imagem do camelo, dizendo que porque houve duas bossas (momentos altos de desemprego) e uma baixa, isso não fazia com que o camelo se tornasse, por cálculo de média, numa mula.
Como, sabemos estamos entregues aos bichos, com ou sem bossas.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Day after

Passou a campanha para o referendo sobre a IVG (aborto), gastaram-se argumentos, esgrimiram-se razões, pintaram-se cenários das cores mais variadas. Pessoalmente optei pelo silêncio, não é que não tenha opinião sobre esse tema, mas porque mais palavra menos palavra nada de importante acrescentaria à vozearia que se levantou, e que conferiu ao debate a dose suficiente de demagogia fácil.
Enquanto o país vive mergulhado em problemas bem mais graves, durante os últimos meses de que se entretiveram os jornalistas? «Apitos dourados», «opas» fictícias, e lá tinha de ser o «aborto»... O que eu acho incrível é como é que partidos de esquerda que assistem ao restaurar do capitalismo e do liberalismo económico à boa maneira do século XIX, com os trabalhadores a serem tratados como não eram há mais de 50 anos, abracem como grande bandeira a questão do aborto. E ninguém reparou que este filme já passou nos palcos do mundo ocidental há muitas décadas...
De resto o país , pachorrento, continua à deriva, a adiar para o dia de S. Nunca decisões importantes. A ter um sistema de saúde sofrível, uma população empobrecida e cabisbaixa, serviços públicos desacreditados e pouco eficientes, uma economia que persiste em ser fraudulenta. Por isso, não me venham falar tão cedo em aborto. Porque um país assim, está ostensivamente a sê-lo.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Um compasso de espera

Uma palavra apenas para aqueles que por aqui passaram, na expectativa de encontrarem novidades. Motivos familiares têm-me absorvido de tal modo que não me resta tempo, não me resta ânimo e de imaginação nem falar!
Espero que esta fase menos boa passe. O ciclo da vida continua e, deixando para trás folhas e ramos caídos, importa aproveitar a seiva que ainda corre. Pode ser que, raiando o sol, e recobrando o vigor se preencham de novo as horas.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Barroso


E eis-me outra vez nos confins do tempo. Debaixo duma poalha ténue, erguem-se os muros frios e escuros do envelhecido granito. Aqui e ali, fumega uma lareira, rescende o pão quente a sair do forno. É o recôndito Portugal velho que perdura em nesgas quase intocáveis à voracidade do betão.
Perto soam os chocalhos das reses e o murmurar melancólico dum regato.
Aqui e ali verdejam os lameiros a escorrer água.
Foi, assim, uma escapadela breve, em convívio com a serra e suas boas e austeras gentes, os seus aromas e sabores naturais.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

No princípio era o verbo

Em cima duma pedra estava um homem
Um homem que amarrava com as duas mãos
Um cajado
E volteando-o no ar limpo e frio
Mistura as palavras
Em busca dum poema

Cada movimento era mais um verso
Na ânsia de captar o mistério original das coisas

Fixava a luz
A clara racionalidade do cosmos
Serenava o turbilhão necessário dos seres
E em sílabas murmuradas compassadamente
Reescrevia o nascimento contínuo do mundo.
Manuel Guimarães (2007)