segunda-feira, abril 07, 2008

Até os anjos comem feijões



Cada povo tem o céu que merece. Vejam só a caricatura de um anjo, tão roliço, tão pícaro....

E já agora, a nossa vidazinha política com tantos pícaros e bonifrates. Há os obesos, daquela gordura imensa, da sabugice, da visão estreita e tacanha, da miopia.

Por isso, o nosso idealismo está assim, preso a uma carne flácida, sem músculo, doente de inércia, de falta de jeito e de gosto.

sábado, abril 05, 2008

Esta espécie de nevoeiro

Pessoa, no estrebuchar da 1.ª Republica, disse: «Nem rei, nem lei nem paz nem guerra»...
E, hoje, uma sensação em parte semelhante nos domina. Já não é a nostalgia de um rei saído das brumas, nem dum caudilho mais ou menos musculado que nos faz falta. Mas, então, o que será?
Creio que neste século novo que há pouco se inaugurou já não se esperava que esta nação adulta enfermasse de pueris maleitas, de achaques próprios de imberbes países que não sabem quem são nem para onde vão.
Mas que mágoa no fundo chora? Que insastifação nos domina e nos ameaça quebrar o ímpeto?
Nas retinas desfilam imagens. Algumas são ferros rubros que nos fazem sangrar na carne e deixam marcas terríveis. Amanhã estarão por aí disseminadas por todas as janelas do ciberespaço. E todos reverão o fiasco em que se tornou um país que quis passar sem a obrigação dos pais educarem os seus filhos e lhes transmitirem as regras básicas de estar numa sociedade que só pode funcionar com regras.

segunda-feira, março 17, 2008

Não será a orientação? Diga lá!

Um mineiro começou a pesquisar água na sua pequena horta, à beira-mar plantada. escavou, escavou e nada. Mesmo ao lado o seu hermano nadava em felicidade e proventos: o seu poço jorrava com saciedade.
- Olhe aí, ó entendido.Não será uma questão de orientação? Não será mais ao lado, o filão que nos há-de saciar a sede?

domingo, março 16, 2008

Porque é dia da poesia

Não vou ficar assim
a ver os dias
escorrerem cinzentos
dormentes e tristes

Não vou silenciar
as ondas
nem calar a voz sonâmbula
das sombras

Vou esculpir na pele rugosa das árvores
as linhas curvas dum
qualquer fado
captar num traço
o gemer da terra
o brilho da estrela
e o sopro fresco do vento

Poema
funde no teu corpo
a quentura dos sentidos
afaga-os com o aveludado das vogais
porque a vida se torna mais viva
na poesia.

Manuel Guimarães

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Luz água rocha

E vi-me ali perante o indizível. A luz coada da bruma, o disco vermelho do sol a transparecer do véu de cinza e o rugido da espuma branca das ondas, num vai-vém sensualmente ritmado, contra a rudeza granítica da curta escarpa.


Ao lado, a austera e nítida brancura da ermida.
Atrás, guardião das misteriosas vagas, o sereno farol.
Lavados os olhos da labiríntica propaganda, aquele chá foi um momento singular de amor à terra e ao mar e à luz e à arte simples que conjuga de forma tão modelar a paisagem e o carácter luso.

Então, no final da breve pausa, pude dizer BOA Viagem. E parti em busca da eterna ilha perdida que havemos de encontrar para além da bruma.


Foto: colhida em http://www.diassilva.com/guardiao/casacha3.jpg