quinta-feira, janeiro 11, 2007

Barroso


E eis-me outra vez nos confins do tempo. Debaixo duma poalha ténue, erguem-se os muros frios e escuros do envelhecido granito. Aqui e ali, fumega uma lareira, rescende o pão quente a sair do forno. É o recôndito Portugal velho que perdura em nesgas quase intocáveis à voracidade do betão.
Perto soam os chocalhos das reses e o murmurar melancólico dum regato.
Aqui e ali verdejam os lameiros a escorrer água.
Foi, assim, uma escapadela breve, em convívio com a serra e suas boas e austeras gentes, os seus aromas e sabores naturais.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

No princípio era o verbo

Em cima duma pedra estava um homem
Um homem que amarrava com as duas mãos
Um cajado
E volteando-o no ar limpo e frio
Mistura as palavras
Em busca dum poema

Cada movimento era mais um verso
Na ânsia de captar o mistério original das coisas

Fixava a luz
A clara racionalidade do cosmos
Serenava o turbilhão necessário dos seres
E em sílabas murmuradas compassadamente
Reescrevia o nascimento contínuo do mundo.
Manuel Guimarães (2007)