sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Regresso a casa

Entrei no portão verde, a que a intempérie vai diluindo a cor. Ao lado do passeio, no tanque granítico, ainda jorra água,borbulhetando em cachos. Os limos ondulam como cabelos.
Depois desci as escadas rombas dos muitos anos e canseiras. Do meio do quintal, ermo, olho a massa cinzenta da casa, a longa varanda aberta a sul.
Vêm, a pouco e pouco, os rostos, as vozes que me acariciam a memória.
O que fica de nós após os tempos? Que marcas deixaremos grafadas na superfície das coisas?
Olho as portas, os objetos cobertos do pó e revejo os vestígios da tua presença, mãe.
Há três, três dolorosos anos que a tua ausência me deixa um vazio insanável.
Agora, a olhar para os espaços que habitaste, regressas subtilmente, como um afago terno e suave.
Por isso, mais do que o valor prático dos despojos, é inestimável a tua presença neles. Assim, sempre que posso, te revisito, aí, porque é aí que mais perto te sinto.
Até já, Mãe.