quarta-feira, maio 31, 2006

Febre de avaliar

Se temos de ser avaliados...
Mas porque será que a febre de avaliação recai apenas sobre os professores? Porque não rejeitamos os ministros e os secretários de estado, os deputados que de disparate em disparate, de decreto em decreto atolam as escolas de papéis e não resolvem um único problema da Escola? A razão é óbvia: a escola é apenas uma das pontas do icebergue de tudo o que a sociedade portuguesa apresenta. Se a sociedade é o que é queriam ter uma escola perfeita?Estes políticos nem a porcaria dumas contas públicas acertam!!!
( texto colocado no blog Blogotinha.)

terça-feira, maio 30, 2006

Como nos consumi(s)mos


(...)
Ó fazendas nas montras! Ó manequins!
Ó últimos figurinos! Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções! (...)
Álvaro de Campos , Ode Triunfal


Uma tarde com a loira Vanessa, num Centro Comercial:

«São cinco da tarde.
Já levo nas pernas uma boa dezena de quilómetros, percorri todas as galerias do NorteShoping e não há meio de encontrar aquele adereço!... Como me havia de ficar bem!
Aquela minha saia, com aquele tope, sem o adereço, é como andar nua! Amanhã na festa do Jó sem aquelas benditas plumas serei invisível!
Ná! Não desisto!
Bom, vou descer outra vez ao piso de baixo.
Olha a Becas e a Rute a olharem para os meus sacos!...Deixa-me fazer uma pose triunfal! Estão todas roidinhas de inveja!
Pudera! Elas nem sonham quanto é que já despachei nestas lojas!
O pior é que foi tudo com o cartão de crédito – está quase no vermelho!
Que raiva! Mas por que é que o cartão tem limite de crédito?
E não visitei a lojinha da Lu – que chatice!
Oh, aquela maldita praga outra vez – «E o fim de mês está aí outra vez!». – Já não posso ouvir aquela música marada!
E fiquei de pagar a prestação do carro!... Já sei que logo lá terei de despachar o chato do Borges que me vai avisar que tenho apenas mais oito dias para liquidar, caso contrário…
Olha! Que espectáculo! Já me viste aquele preço duma semana nas Caraíbas? E até fazem créditos!
E se entrasse? Boa, até conheço a funcionária! É a Gi, andou comigo no Garcia. Vou falar com ela. Entro e vou directa à funcionária:
- Tu não és a Gi?
- Sou, estou a reconhecer-te!... És a Váni! Há que tempos, mulher! Que fazes?
- Acabei Recursos Humanos e estou a fazer uma formação, paga, claro! Uma ninharia, mas já dá para o imediato e para arranjar as unhas…
- Olha, estive a ver a promoção de viagens na montra. Aquela das Caraíbas é interessante…
- Temos vendido bem!
- E o crédito?
- Fácil, assinas um contrato e dás dez por cento para a entrada.
- Vou pensar nisso. Talvez os meus pais me emprestem a massa para a entrada. Vou levar o folheto.
- Gi, vou andando. Depois passo por cá.
- Vai dando notícias.
Coitada, aqui nesta lojita. Eu logo vi que ela não arranjava nada de jeito!...Tenho de aproveitar esta promoção!
Onde é que a Gabi foi buscar aquele perfume? Por que é eu não posso também comprá-lo?
Vou passar pela Lâncome, pode ser que convença a gerente da loja a deixar-me levá-lo e pagar no próximo mês. Pois neste, temos falado!... Se não fossem os aniversários da Locas, do Di e da Tecas, mesmo que lhes tenha dado umas parvoíces…
- Cá está a loja! Entro e vou directa ao assunto.
Acho que me vou fazer íntima. Dou-lhe dois beijos e:
- Então, Fernanda, como vai?
- Olá Váni. Então por cá?
- Precisava duma cena... Ainda tens aquele perfume?!… o lançado na campanha do Natal?
- Vou buscá-lo. Mas depois, temos de conversar...
Entendi o que a tipa queria dizer, mas faço-me de sonsa. Ainda não lhe paguei os cremes que levei há dois meses.
- Olha, deixa lá. Estou apertadinha com o tempo. Depois passo por cá.
E saio, mas ainda ouvi a gerente a cochichar qualquer coisa. Que tenha calminha! Eu sei o que ela queria!».

E prosseguiu a nossa Vanessa a poisar de loja em loja, levada pela vertigem do comprar. É importante para a sua imagem de bonequinha oca e fútil passear-se de sacos de design arrojado pelas galerias das grandes superfícies, as novas catedrais da nova religião – o CONSUMO.
(Texto publicado no jornal Preto no Branco).

terça-feira, maio 23, 2006

Falta informação na A4

Expliquem-me: porque será que na auto-estrada (A11) Guimarães-Felgueiras, que liga à A4 há indicações correctas e esclarecedoras para os utentes que sigam para Vila Real; e por sua vez, na A4 (Amarante -Porto, da Brisa), não se faça igual referência ao percurso para Guimarães, com indicação da auto-estrada(A11)? Será guerra de concessionárias?
Entendam-se e não lesem os clientes.

Onze anos


Vão longe os meus onze anos, tão longe que os pormenores das peripécias se vão diluindo e misturando. Sei apenas que, por vezes, uma certa vontade de voltar a ser menino me domina.
E voltam na memória as caminhadas pelo mês de Maio, sob as latadas cobertas de verdejantes e promissoras videiras; as aventuras na mata, com o cão pastor alemão (boby). E persistem as horas intermináveis no salão de estudo, debaixo da vigilância atenta do prefeito, com o sono a pesar nas pálpebras. E as tardes de sábado cheias de bola. As investidas na mina abandonada, sempre na mira de descobrir o tesouro perdido. E a cabana construída de ramos, e a guerra contra os índios que se escondiam por entre os fetos.
E as rondas à volta do grande recreio, bichanando rosários e risadas. E as tramitações da malandrice, que com os mais chegados, se engenhavam.
Tudo vai voltando, enquanto tomo nas mãos esta fotografia.

quarta-feira, maio 10, 2006

TLEBS e exames do 12.º ano

Estão aí os exames do 12.º ano e quantos não são os pais, os professores, e sobretudo, os alunos que se questionam sobre a dimensão do efeito da adopção da nova terminologia linguística (TLEBS) neste nível de ensino, assim, duma forma tão taxativa e ao arrepio das aprendizagens até há bem pouco tempo realizadas.
Cconceitos que foram ao longo de nove anos interiorizados, por exemplo ao nível da morfologia e da sintaxe, já tidos como razoavelmente assimilados, são substituídos por termos que, numa lógica de substituição, pouco mais avançam verdadeiramente no estudo língua. Cada escola linguística persiste com as nomenclaturas que mais se ajustam à sua práxis, não havendo um verdadeiro consenso em torno da descrição prática e funcional da língua portuguesa. Assim, cada vez que se tomam os termos novos, por exemplo o de «quantificador» reconhecemos como é quase aleatória a classificação, tendo-se em conta a nossa tradição gramatical, que não deveria ser tão aligeiradamente abandonada.
Será mais funcional para um aluno ter de reformular toda a sua competência de análise linguística (na dimensão sintáctica) ao nível da estrutura e das funções sintácticas da frase, do que, quando se justificasse, colmatar as lacunas que a gramática tradicional apresentasse?
Afinal, não temos um documento base de trabalho que sirva de referência, com uma exposição fácil, não temos uma gramática que veicule de forma sistemática a TLEBS, não temos um corpus de exercícios suficientemente representativo para auxiliar alunos e professores. Exigir em exame que se domine um saber que não é definitivo, nem foi trabalhado a um nível satisfatório, posso dizer com conhecimento de causa, será mais um dos disparates e roçam a fronteira da asneira.
Faltou uma avaliação da implementação da TLEBS, uma fase para reformulações e esclarecimentos, e não foi universal o acesso à formação, da parte dos docentes. Por isso, qualquer resultado será sempre melhor do que a expectativa, porque acredito que vai valer de novo o espírito de sobrevivência do português. Só isso nos salva.