terça-feira, maio 17, 2005

Uma vida que dava um livro - PARTE II


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(Cont.)
Já durante a segunda guerra, a aventura do volfrâmio é um não acabar de histórias.
Zé da Lopes fala-nos das saídas de madrugada, atravessando a serra da Cabreira, ainda enfestada de lobos. Dos encontros fortuitos com a sorte, no saco de minério que se vendia na calada da noite, em compradores de Ruivães e de Salto. Das escaramuças com os guardas da mina para conseguir passar um pouco do negro minério. Dos guardas que rondavam a caserna e que nada encontravam, porque o «volfro» já estava a salvo e a caminho da guerra. Das pilhérias do encarregado que lhe exigia um saco dele, porque era preciso animar o seu S. João em Braga. Da camioneta do Marinho que os deixava para trás, porque os fiscais eram "uns gatunos". Das jornadas na serra Amarela e na serra Galega, por caminhos ínvios e cheios de sobressaltos. Das dormidas em cabanas dos pastores da vezeira, do ataque de piolhos e dos chatos. Do assalto à camioneta por uma quadrilha de má catadura: «Tudo quieto, que ninguém se aleija. Ó motorista, passa para cá essa mala». E lá ía uma pequena fotuna!
Diz-nos que pelas encostas da serra a caminho da Borralha era a romaria matinal dos pobres que rumavam à serra para encontrar uma saída para a miséria: no emprego da mina, no comércio dos poucos víveres que transportavam às costas, desde as fraldas da serra da Cabreira e até de freguesias de Fafe.
Mas também conta-nos das fanfarrodas dos que se sentiam repentinamente com os bolsos cheios, que fumavam o tabaco enrolado em notas de vinte. E das doenças provocadas pelo gás e pelo «pó» que acabaria por lhe levar um irmão, que enterrou em Salto.
Falou-nos do seu casamento e dos trabalhos por que passou para comprar o arroz - a cento e vinte mil reis o quilo! - o que seria hoje uma pequena fortuna!
Depois, fechada a mina, foi a construção do canal das Lourosas, pequena hidroeléctrica do rio Ave. E relatou-nos o episódio trágico do colega que perdeu o irmão, afogado na presa, e na sua insistência para que lha despejassem para recuperar o corpo. E da dureza do patrão que o recusou.
M. Sousa (cont.)

3 comentários:

Anónimo disse...

Pelo que li não há dúvida que o "Senhor Zé da Lopes é um homem vivido que carrega consigo um rosário cheio de histórias".
É,de facto, um rosário que muitos como ele tiveram que carregar às costas... Tempos difíceis!!! Porém, retira-se deste homem uma lição de vida: não desistir, pois sobreviver é viver! Lutar por uma vida melhor que, certamente conseguiu...
Para si, prof Manuel, e para o seu sogro,Zé da Lopes, deixo aqui um abraço.

Pedro - P.L.

Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes disse...

Olá Manel vou seguir a istória, deve ser pelo que contas coisas tristes do nosso povo, vou continuar a leitura. Beijo

Dra. Laura Alho disse...

São muitas as lições que tiro daqui. E muitas as que recordo.

Beijinho :*