quarta-feira, maio 04, 2005

Pequenas estórias

-Salta, morcão, salta.
E todos os garotos olhavam tímidos. Os truces colados às pernas magras, tremelicando da água fria, mas o Chico, autoritário, dava ordens ao Libírio :
- Ou saltas ou empurro-te. Lingrinhas!
E outra vez , mesmo do meio da ponte, o Chico voltou a saltar. Os olhos dos pequenos seguiram-no até à superfície da água lisa e escura.
Chap!
- Ali foi que desapareceu o Zé Custódio em dia de S. Bento. Num foi, ó Gusto?
- E nunca mais o viram, num é? - dizia outro.
E o tempo passava e a cabeça do Chico não aparecia na superfície da água.
- Caraigo! Ele num vem!
- Olha que a moira encantada levou-o cum ela!
- Que moira? O teu pai num te disse, morcão?! Aquela que levou o penedo do monte de Santa Maria até à Citânia.
-Ah, essa? ...
Entretanto algumas bolhas de ar chegaram à superfície. E o Chico apareceu. O herói estava ali outra vez e pronto a desafiar os cagarolas para o salto fatal.
- Quem é o próximo? Ou saltandes ou parto-vos todos cum porrada!
Mas quando o Chico se apressava a subir a ladeira até à estrada, na ponte, já todos, como um bando de pardelhos assustados se egueiraram por entre os milheirais.
M. Guimarães

1 comentário:

Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes disse...

Como estão vivas na tua memórias as vozes do passado, mas afinal também acreditavas nas Mouras, eheh belos tempos e que saudades. Bjs.