sexta-feira, março 25, 2005

No revolver da memória


Manhã. Os sinos desatam num trinado alegre. estralejam foguetes. É o compasso que vai a sair da igreja.
No séquito o rapaz da campainha, o da caldeira da água benta, o sacristão vestindo a opa vermelha, os homens da fabriqueira com o saco. As moças casadoiras carregando os açafates do folar. E a comandar este animado cortejo o seminarista imberbe, que todas as moçoilas da aldeia miram desvairadas.

Entram em nossa casa:

- Aleluia, Aleluia...

Ouvem-se os foguetes. Vem o vinho cor de púrpura com uma rosa de espuma dançando no centro da malga e o gás saltitando em bolhinhas.

- Bebam, não façam cerimónias. Tirem pão leve («pão de ló»), não façam como da outra vez.

O seminarista chega uma malga levemente aos lábios e diz:

- Está de bebê-lo, mas temos de ir. A volta é muito grande.

- Boa Páscoa. Aleluia, aleluia.

E lá partiram, levando o que a mesa apresentava .

E as moças dos açafates de verga, palmilhavam o caminho atapetado de folhas de hera e flores com mais uns quilos de arroz e acúcar.


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