Neste momento em que a cada canto o silvo da morte soa accionado por uma ordem obstinada e louca,convém recordar as vítimas: as dos sinistros factos e dos autores factuais das matanças. Com raiva e incrédulo olho a realidade e sinto. No poema de Manuel Guimarães assim se aborda a iniquidade:
Rasga-te de encontro às arestas graníticas deste cerco
Estranha-te, criva-te de insultos
Maldiz a hora em que te tornaste
Cidadão cordato cinzento e inócuo
No teu cérebro cresce um grito estrangulado
Um soco brutal contra o estômago
Uma explosão de aço e sangue
Um latido
de ordens silvadas entre dentes enegrecidos
de fumo e nojo.
Deram o sinal
E agora estás aí, face à tua sorte ignara e bruta.
Nem fixas o olhar na doçura dos rostos inocentes,
Alguns apeteces beijar
Mas não!
o latido insistente dos donos das portas do paraíso
Acena-te inflexível
o teu inquestionável destino
Falta apenas esse movimento cego,
Operado em olímpica serenidade,
Convicto de alcançares
Os oásis irreais
Da utopia.
E tu
Embalado ao som dos versículos
De um deus qualquer,
Estilhaças o corpo a alma
a vida.
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