domingo, julho 03, 2005
Para Sophia
Passou ontem um ano após a morte de Sophia. Mas ela mantém-se entre nós com a força da sua palavra mágica. Em sua homenagem, apresenta-se agora um poema que há um ano se fez.
«Não se perdeu nada em mim» ( Sophia)
No fundo do azul do olhar
Esbraceja um mar que vive
Para além do fio cortante do horizonte
Permaneces
Em coral, nos búzios
Que ressoam a sempre viva melodia do mar
Sob os pinhais na curva das dunas
Na penugem dos fenos marinhos
Nas flores lilases dos ásperos cardos
Na luz branca e sincera da cal
Das casas baixas aninhadas nos regaços das dunas.
No voo do pássaro azul
E no cavalo verde que salta a sebe de maracujás
E no jardim ponteado de flores de trevo
E de seixos colhidos na orla da onda
No verbo exacto
Arrancado do caos humano
Num tempo inseguro e inexacto
Que urge emendar e reconstruir
Com a lição dos deuses
Abandonados
Mesmo depois
Da ausência
Viverás ainda no florir das violetas
No respirar ansioso das vagas
No raio de sol quente e justo
Que nos atravessa e nos limpa
A alma.
M.Guimarães (2004)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Rose, muito lindo o teu poema.
"Sob o caramachão de glicínia lilaz
As abelhas e eu
Tontas de perfume
Lá no alto as abelhas
Doiradas e pequenas
Não se ocupavam de mim
Iam de flor em flor
E cá em baixo eu
Sentada no banco de azulejos
Entre penumbra e luz
Flor e perfume
Tão ávida como as abelhas"
(Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen - Abril de 98)
A sua obra permanecerá eternamente...
Um abraço
A beleza da poesia é ainda maior quando assim inspira outros poetas.
As tuas palavras são brisa fresca que dançou nos meus cabelos...
Nem parece que já passou um ano após a sua morte...
Fica a obra e a memória~.
Um beijo *
Enviar um comentário