Minha mãe tinha uma dobadoira
Feita de tábuas de pinho
Fê-la o meu padrinho.
Toda a noite
sob o luzir trémulo da candeia
enquanto o vento uivava sobre as telhas
a dobadoira
rodava
vezes sem conta
E o novelo do linho
E a trama da vida
se enovelavam juntos
Num rodopio sem fim.
- E meu home que não vem
que anda por esse caminho
E a noite se faz mais noite
E o pão que tarda em cozer
E os meninos que dormem.
Menos aquele anjinho
Que Deus o tenha.
-Mas rais parta ó fio!
E o peito de minha mãe
arfou mais fundo
e sua voz se embargou
E quedou-se a olhar pela janela
Na fundura da noite.
M. Guimarães (2005)
5 comentários:
Tanta criatividade e sensibilidade para a escrita, merecem...uma publicação...pensa nisso com carinho...e faz a vontade aos teus assiduos leitores.
Tão triste Manel,é um retalho de vida? ou apenas um poema!.
Beijo
Adrika, a fronteira entre a poesia e a vida existe apenas na capacidade de operar a metamorfose poética. As vivências essas são o élan, a seiva que alimenta o poema.
Lindo! Ternamente lindo!
Um abraço ;-)
Um retrato fiel de tempos passados, nas nossas aldeias, num belo poema. Enquanto a dobadoira dobava, dobava o fio e a vida. Um abraço Manuel
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