sexta-feira, junho 10, 2005

Dia de Portugal - Variações sobre o hino




Pschiu!

Silêncio. Tu aí, endireita o peito, sacode o pó das calças. levanta a fronte. Enche o peito de ar.
Aí, tu, deixa a lamúria, levanta-te e escuta.

E soam os primeiros acordes. E já todos alinhados, deixando de lado as mesquinhas cargas que o dia a dia amontoa.
E soa a voz entusiasta: «heróis do mar, nobre povo»...
E diz o miúdo:
- E foram todos aqueles: o Vasco da Gama, o Bartolomeu... o Gil Eanes.
- Sim, e também o Manuel de Sepúlveda e sua esposa que morreu na praia dos Cafres, e o Fernão Veloso que contava histórias de cavaleiros nos reinos da Bretanha.
Esses todos. E até os que empenharam as barbas e que ameaçaram fechar os mares à soberba dos bravos turcos.
- Sim todos esses. E também os que naufragaram e que maldisseram a hora em que se despediram da praia do Restelo.
«Nação valente, livre e imortal»...
- E somos todos nós? não é?
-Sim e todos os que fizeram desta terra uma nação livre. Expulsaram os ditadores, deram ao povo o direito de traçar o seu destino.
E seguia o hino: «Contra os canhões, marchar»...
-Sim, é preciso marchar contra os canhões: a inércia, a cedência ao mais fácil, a espera absurda de um salvador, o egoísmo de cada um e de cada grupo. Mais do que os de fora, os canhões que trazemos por casa: os que fogem ao fisco, os que subornam, os que usam das ajudas do Estado indevidamente...
E soará o hino, em uníssono, convocando cada um para a grande façanha de fazer deste país um país a sério, que não se adie mais. Que desate de vez as peias que o limitam.
Se todos dermos o nosso melhor, ficaremos mais confortados e poderemos descansar e usar da beleza deste espaço paradisíaco que nos foi destinado.
Portugal, sempre!

6 comentários:

Unknown disse...

é verdade que deveriamos disfrutar..deste belo país a beira mar plantado... mas o que me irrita é que não deixam...
o poder está instalado..é o que me apetece dizer.. e o lema é lixamos os gajos...que eles são de brandos costumes.
abraço

Amita disse...

Olá Manuel. Eis umas variações cheias de força num excelente texto. Quem me dera ser criança para poder acreditar o que não sinto, não vejo... Mando-te um sorriso franco e amigo e os desejos de um excelente fim-de-semana (Obrigada pelas tuas palavras)

Anónimo disse...

Uma forma diferente de viver Portugal. Gostei.
Abraço e bom fim de semana:-)

Menina Marota disse...

Voltei para dizer que te linkei ;-)

Manuel disse...

Houve tempos em que envergonhados olhávamos os símbolos nacionais, porque durante muito tempo foram-nos impostos pelos mesmos que outras coisas horríveis nos impunham. Hoje sentimos que uma comoção nos domina e nos irmana quando eles se ostentam. Por isso precisamos a reapreender a sentirmo-nos povo, Nação.Ao Carlos, à Amita, à Menina Marota obigado pela visita. E voltem sempre.

Maria Manuel disse...

APOIADO! É preciso que o sentimento da nacionalidade (nesse bom sentido) esteja presente em nós num quotidiano de rigor e de luta!