terça-feira, setembro 19, 2006

E se de repente fosses o escolhido?


Depois de te terem anulado um estatuto de carreira arduamente negociado, de te ameaçarem com deslocações pelo fim deste nosso mundo português, de te sobrecarregarem com horas de enfado nas escolas, confundidas com berçários para pré-adultos, de te atiçarem com a participação dos pais na tua avaliação, depois de te adiarem a reforma por mais uns longos anos, quando já tudo te pesar, depois de tudo isso: a recompensa: TU PODERÁS SER O PROFESSOR DO ANO.
Oh sabedoria das sabedorias! Oh benesse das benesses, oh vaidade das vaidades.
Nem mais nem menos, assim:
«E este ano o prémio, o óscar para o melhor professor vai para....».
Até as queixadas da burra do antigo testamento casquetaram com a inaudita nova. Bom, não estoirei de riso porque a vontade de rir começa a ser pouca, mas que uma valente gargalhada me mereceu esta peregrina ideia, lá isso não desminto.
Agora, mas a sério: que argumentos, que parâmetros, que fundamentos para fazer essa selecção?
Acham que isso vai trazer alguma qualidade à inqualificável situação que se vive em muitas escolas?
Bem melhor seria começarem duma vez por todas a deixar de parte medidas para enganar «parolos», porque convenhamos, temos assistido com frequência a medidas anunciadas em grande estilo para embasbacar «parolos».
Eu por mim assobio para o lado e vou fazendo figas para que comecem a arrumar a casa, sem reformas ditadas por um qualquer frenesi reformista, sem consistência nem em consonância com ideias sérias sobre educação.

5 comentários:

Anónimo disse...

É difícil perceber a actuação dos sindicatos dos professores ao longo destes anos. O que é que lhes aconteceu, aonde estiveram e aonde estão? Afinal, para que servem?
Parece que foram domesticados, consentindo todas as políticas trapalhonas e irresponsáveis dos governos pós-25 de Abril.
Não é verdade que os professores no tempo do Estado Novo não eram mais respeitados não só pelo Estado como pela população em geral?
Não é minha intenção aqui exaltar as virtudes dum sistema político ditactorial como foi o Estado Novo, antes pelo contrário. Mas a situação que se vive actualmente dá que pensar.
Uma medida que os sindicatos deviam tomar era a imediata suspensão dos cursos educacionais, em todas as áreas do conhecimento, em todas as universidades públicas e privadas. O país tem excesso de professores e não vale a pena gastar recursos financeiros na formação de novos professores.
Tenho amigos que enveredaram pela àrea educacional, tendo dedicado 5 anos das suas vidas para tirar a licenciatura para agora estarem no desemprego ou então pagarem para ir trabalhar, porque conseguem meia dúzia de horas mas o que ganham não chega sequer para pagar as despesas de deslocamento para o local de trabalho.

Anónimo disse...

Manuel:
Li e concordo. Sabes, detesto este governo e a sua política sacana em relação a muitos aspectos da vida nacional.
JBS

Anónimo disse...

Dá para o Srº Professor "esclarecer" melhor o que quis dizer com: "de te sobrecarregarem com horas de enfado nas escolas" (afinal de que horas falamos? É que eu cumpro 8 diárias no meu trabalho, o que totaliza 40 semanais...); "confundidas com berçários para pré-adultos" (na qualidade de encarregada de educação de um desses "pré-adultos", só posso achar "comovente" a forma "simpática" como refere aos seus - e todos - os alunos em geral); "de te atiçarem com a participação dos pais na tua avaliação" ("quem não deve não teme", não é esse o ditado?); "depois de te adiarem a reforma por mais uns longos anos" (suponho que com "longos anos" queira dizer uns 10 pelo menos... pois meu caro, não posso deixar de chegar à conclusão que "esses" (sejam 10, 9 ou 8) eram exactamente os que V/ Exª. levava de avanço sobre "os outros" (onde me incluo), se tudo continuasse na mesma...). É que alguma coisa me deve ter escapado...

Manuel disse...

Só um breve esclarecimento a propósito do comentário do «liblog»: não era intenção minha alimentar qualquer tipo de polémica. Naturalmente que é difícil a quem não está por dentro da realidade que é professor ver o que está em causa. No entanto, penso que devo deixar algumas palavras.
Quando o professor se vê na triste condição de ser para alunos de mais de 14 e 15 anos uma espécie de babysitter, retirando aos jovens a possibilidade de autonomamente aprenderem a gerir o seu tempo, não é assim, que se faz educação. Quando as escolas estiverem entregues a profissionais sem frecura física e mental, quase incapazes de se actualizarem. Quando os professores estiverem à mercê da revanche: se os seus alunos não obtiverem os resultados que os pais esperam, é fácil encontrar o bode expiatório: é sempre o do costume...
Por isso tudo, e sabendo quão efémera é a glória, o título que qualquer professor possa receber, amanhã, pode crer, poderá ser contestado, o herói de hoje será o vilão de amanhã. Assim, considero como um mero exercício de propaganda fácil aquela iniciativa.

Amita disse...

É simplesmente hilariante...
Um bjo