terça-feira, março 21, 2006
Quando Vier a Primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos
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4 comentários:
"...Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã."
O "meu" Poeta favorito e que a minha alma clama...
Grata por este belo momento, no dia dedicado á Poesia e dia de Primavera, também.
Um abraço e boa semana :)
tão cruelmente verdade..como é bom saber que há poetas realistas..bjinhos
Realismo nostálgico, tal como o próprio poeta.
Mas gostei de ler :) Beijinhos *
E a Primavera vai e volta sempre, com a secreta esperança da renovação. E é essa certeza que me tranquiliza...Beijo!
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