Transcreve-se um excerto duma resposta interessante que um dos consultores (penso) do Ciberdúvidas deu à interpelação feita por um docente:
«Gostaria, antes de continuar, de tecer algumas considerações sobre a nova terminologia (TLEBS), ou melhor, sobre a ansiedade que a sua implementação está a causar. Sem escamotear a necessidade – que não é de hoje! – de formação específica no âmbito da língua portuguesa, ainda bem que há uma nova terminologia que nos põe, a todos, a questionar a nossa língua e o conhecimento que dela – efe(c)tivamente! – temos. Isto tudo para dizer que a grande maioria dos aspectos focados na TLEBS não é nova. Também é bom dizer que nem todos são pacíficos, ou perfeitos ou, sobretudo, inalteráveis. A problemática entre nome e substantivo, por exemplo, já era evidente quando eu me licenciei, em 1985! Muitas das gramáticas que hoje os nossos alunos (e nós!) compram já falam de nome e não de substantivo. E nós temos andado a “enfiar” na cabeça deles coisas como «sintagma nominal». Alguma vez nos terá passado pela cabeça chamar-lhe «sintagma substantival»? Sinceramente, creio que estamos no bom caminho! Estamos a pensar no assunto e a levá-lo para o grupo disciplinar! Que bom! A segunda a(c)ção de formação promovida pela Universidade de Lisboa sobre este tema, em Outubro e Novembro deste ano, passou das cerca de 20 pessoas que assistiram à primeira, em Janeiro de 2002, para próximo das duas centenas. Estamos finalmente a pensar a nossa língua! E isso só pode ser positivo! Regressando ao «adje(c)tivo substantivado», do meu ponto de vista, trata-se de uma expressão que poderá continuar a ser utilizada, pois ela serve para explicitar, de forma clara, um fenó[ô]meno de formação de palavras: a derivação por conversão (até agora conhecida por derivação imprópria). É a existência desta possibilidade, ou deste fenó[ô]meno, que convém ensinar (ou aprender). Por outro lado, em contexto, a palavra ou é adje(c)tivo ou é nome. Se estiver perante um nome que corresponde à nominalização de um adje(c)tivo, como os seus alunos – depreendo da sua mensagem – estão no final do percurso, não lhes faz mal nenhum, antes pelo contrário, atribuir aos conceitos a designação corre(c)ta e dizer que se trata de um nome, formado por derivação por conversão a partir de um adje(c)tivo. Finalmente a bibliografia. Há, neste momento, de que eu tenha conhecimento, três gramáticas de língua portuguesa que vale a pena ter e consultar: A Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, com reimpressões disponíveis no mercado; a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, cuja 37.ª edição revista e ampliada saiu no Rio de Janeiro em 2001, editora Lucerna; a Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus e outras, na sua 5.ª edição, revista e aumentada, publicada pela Editorial Caminho. As três refle(c)tem sobre a língua portuguesa com pormenor e rigor; as mais a(c)tualizadas face à evolução dos conhecimentos lingu[ü]ísticos são as últimas duas, porque foram sujeitas a actualizações já neste milénio. Aquela que mais se aproxima das designações utilizadas na TLEBS é a última. Bom trabalho! Edite Prada ».
Não é que concorde com a globalidade do que diz a autora do texto, devo, no entanto, referir que na minha experiência de professor de Língua Portuguesa já me deparei com um sem número de situações para as quais a gramática tradicional não dá resposta. Não haja ilusões, não é possível considerar o estudo da Língua sem ter por referência os dados que as ciências da linguagem vão acrescentando ( O que seria da Física se os docentes se quedassem por Euclides e não considerassem Newton, já para não falar em Einstein?!).
Mas sejamos realistas, a mera alteração de nomenclaturas (metalinguagens...) não resolve por si os problemas no estudo da Língua (o caso dos famosos «ses»...). Mas também não é uma terminologia que não é tão nova quanto isso que vai alterar a língua. O positivo da situação é o ter-se iniciado um processo. O mal estará em querer terminá-lo por portaria, quando realmente só agora é que começa a ser interessante a discussão.
Fica aqui e, apenas como isso, esta achega.
2 comentários:
Não tenho conhecimentos de português para me poder pronunciar, dado que a abordagem é muito técnica e a minha formação escolar se resume ao secundário.
No entanto, não deixo de subscrever a tua opinião final porque a língua está em constante evolução, sendo conveniente que a gramática (?) vá acompanhando as suas mudanças (no bom sentido, já que não me parece correcto, por exemplo, adoptar como boa a linguagem utilizada nos chats da net, por muito que ela seja usada) e a possa balizar, de modo a que o código respectivo vá sendo utilizado pela generalidade das pessoas e não apenas no ensino.
E a discussão em torno de temáticas como esta, e de outras, deve ter um tempo adequado. Se tu dizes que agora é que a coisa estava a aquecer...
Um abraço.
Hoje só vim agradecer a tua visita!
Um beijo!
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