segunda-feira, novembro 28, 2005

Da nossa necessidade de símbolos


O tema em destaque na actualidade pequena da nossa praça política é que o nosso governo também descobriu o «seu véu islámico». Isto leva-nos à antiga discussão da necessidade de símbolos. Mas como sei que há quem queira esgrimir nesta guerra e não eu, lembrei-me deste poema do nosso Álvaro de Campos:

Psiquetipia (Ou Psicitipia)

Símbolos. Tudo símbolos
Se calhar, tudo é símbolos...
Serás tu um símbolo também?
Olho, desterrado de ti, as tuas mãos brancas
Postas, com boas maneiras inglesas, sobre a toalha da mesa.
Pessoas independentes de ti...
Olho-as: também serão símbolos?
Então todo o mundo é símbolo e magia?
Se calhar é...
E por que não há de ser?

Símbolos...
Estou cansado de pensar...
Ergo finalmente os olhos para os teus olhos que me olham.
Sorris, sabendo bem em que eu estava pensando...

Meu Deus! e não sabes...
Eu pensava nos símbolos...
Respondo fielmente à tua conversa por cima da mesa...
"It was very strange, wasn’t it?"
"Awfully strange. And how did it end?"
"Well, it didn't end. It never does, you know."
Sim, you know... Eu sei...
Sim eu sei...
É o mal dos símbolos, you know.
Yes, I know.
Conversa perfeitamente natural... Mas os símbolos?
Não tiro os olhos de tuas mãos... Quem são elas?
Meu Deus! Os símbolos... Os símbolos...
Alvaro de Campos

4 comentários:

Dra. Laura Alho disse...

Mesmo quando não os há, inventamo-los.
Gostei de voltar a ler este poema :)

Beijinho e boa semana *

Anónimo disse...

Os simbolos existiram sempre. E ler este post simbólicamente agradavel. Boa postagem. Beijinhos.

Poesia Portuguesa disse...

E lembraste muito bem!

O meu Poeta favorito aqui, num simbolismo que muito apreciei...

Abraço e bom feriado ;)

Anónimo disse...

Como gostaria de ter o Fernando Pessoa vivendo nesta época que nos atormenta, que símbolos escolheria ele? como os "comentaria"? Beijo Manuel