quinta-feira, janeiro 06, 2005

Nau abandonada



Na pequena baía quase fechada
Sob uma lua fria e branca
Dorme exangue e lassa a velha nau
De epopeias velhas e gastas

Agora roída e frágil
Esperando que uma vaga
Mais forte a submeta e alague

Os mastros outrora altivos e ágeis
Vergaram quebrados
O leme imobilizado
Perdeu todos
Os nortes

E mesmo a popa que soberba
Se enchera de brios e honra
É um palco triste de desolação

À volta os sujos sargaços
E o cheiro nauseabundo da vaza
do mar pútrido enredam o corpo da nau
coberto de musgo velho e sujo.


Que foi feito do capitão nobre e leal,
E da sua energia, e da sua aventura,
e da sedução de todas as sereias
Que nos portos do mundo lhe acenaram com seus maviosos cantos

Certamente, encalhou numa vida qualquer de pequenas rotinas,
Contabilizando imagens e parcos proventos
Que lhe sustentam até ao fim a fome de vida.

M. Guimarães

Sem comentários: