Na pequena baía quase fechada Sob uma lua fria e branca Dorme exangue e lassa a velha nau De epopeias velhas e gastas Agora roída e frágil Esperando que uma vaga Mais forte a submeta e alague Os mastros outrora altivos e ágeis Vergaram quebrados O leme imobilizado Perdeu todos Os nortes E mesmo a popa que soberba Se enchera de brios e honra É um palco triste de desolação À volta os sujos sargaços E o cheiro nauseabundo da vaza do mar pútrido enredam o corpo da nau coberto de musgo velho e sujo. Que foi feito do capitão nobre e leal, E da sua energia, e da sua aventura, e da sedução de todas as sereias Que nos portos do mundo lhe acenaram com seus maviosos cantos Certamente, encalhou numa vida qualquer de pequenas rotinas, Contabilizando imagens e parcos proventos Que lhe sustentam até ao fim a fome de vida. |
M. Guimarães
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