Minha vida é uma barca imensa
Saiu do porto
Em dia de névoa
Bem cedo
E foram entrando
Um a um todos os companheiros
Desta errante viagem
Umas vezes o sol brilha
E límpido o horizonte se revela
Matizado da profusão de cores
E todas as palmeiras se vergam obedientes
E todas as ostras se abrem em pérola
E todos os aromas
São ritmos vivos e quentes
Mas outras
Debaixo duma cerração densa e húmida
Tocamos o céu a escorrer
De tinta em cinza
Que nos aperta cada vez mais
Contra o casco duro desta frágil embarcação.
E mais pesado ainda
Quando intrusos irrompem
No espaço seguro do leito
E mais desolada continua
Vogando
Quando a abandonam
Aqueles que a ajudam
na tormenta.
M. Guimarães (2005)
2 comentários:
Belo e verdadeiro!
Grande nau, grande tormenta, diz o povo e com razão...O difícil é levá-la a bom porto mas, haja optimismo, chegará lá certamente.
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