terça-feira, dezembro 19, 2006

Poema de Caeiro

Apetece-me ler Caeiro e beber a sua escrita sóbria, desinteressada, fria. Escrita, assim, num encontro da alma com sua dimensão lhana do ser, num alheamento suave. Afastar-me do ruído do mundo, do vozear confuso e caótico dos profetas da desgraça.
Agora, assim, a olhar a nudez dos troncos das árvores, a rir-me da imensa ambição dos planejadores do nosso medíocre MUNDO, eis o prazer de reler Caeiro.


Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam
Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

1 comentário:

Zé Maria disse...

Venho aqui regularmente e o blog é muito bacano. Tenho um Link para ele no meu Blog: O Último Primata!
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Feliz Natal!