Um dia
Não estarei ali
Um dia o sol não transporá as montanhas
Nem a lua beijará a copa dos meus castanheiros
Um dia a trágica silhueta das
Árvores calcinadas não terá câmaras apontadas
Nem o voo insondável da ave
cortará de leveza os céus
Nem mais
O azul se dará em seus tons múltiplos
Na paleta dos pintores
Um dia não mais a raiva cruenta das armas
Sagradas aos deuses
Manchará de sangue a face da terra.
Um dia os grandes conflitos serão
Ridiculamente mesquinhos
na sua insignificância
E os poemas serão apenas ecos
Gastos que ninguém ouvirá
Porque o dia da verdade veio
Antes dos homens terminarem
o seu jogo de morte.
Manuel Guimarães (2006)
quarta-feira, agosto 16, 2006
terça-feira, agosto 08, 2006
Cem anos das Marchas Gualterianas em Guimarães
Esperava-se humor, sátira, animação. Mas as Marchas Gualterianas de 2006 ficaram muito aquém das expectativas. Temas para os carros alegóricos não faltavam, mas o excessivo tabu não permitiu abordar de forma mais brejeira os acontecimentos que marcaram o ano em Guimarães. Nestas situações é preciso a terapia do riso para superar as múltiplas desgraças domésticas.
Apesar de tudo gostei do arranjo das ruas e da sua iluminação.
Para o ano há-de ser melhor.
quinta-feira, agosto 03, 2006
O que aconteceu ao Louro?
Voltei à praia, mesmo em frente daquele prédio de três andares com enfeites amarelos.
Antes de me acomodar debaixo do guarda-sol, olhei atentamente para a varanda do segundo andar do prédio amarelo. Mas não estava lá o palrador Louro.
Que aconteceu àquela ave que em ano transacto me desafiara para uma breve crónica?
Matutei no caso.
Então, na minha mente um amontoado de hipóteses foi ganhando forma.
- Será que algum gato safado lhe estrangulou o pio?
- A gripe das aves terá feito mais uma vítima?
- As gaivotas terão convencido o papagaio a partir em voo livre até às mirabolantes paisagens dos Trópicos, onde os frutos são doces e o sol constante?
Mas o mistério persistia.
Ganhei um pouco de ânimo e fui indagar.
Toco à campainha.
Quem é?
-Desculpe o incómodo. Mas aqui neste andar não vive um papagaio de penugem verde e que imita as gaivotas?
- Mas pensam que não tenho mais que fazer do que ter de dar satisfações por um velho papagaio?
- Não pretendia incomodar, desculpe lá...
- Mas não vai sem resposta. Saiba que tive de despachar o raio do papagaio. Não é que os turistas se queixaram no condomínio que o bichinho fazia muito barulho? Acabei por ter de o levar para uma aldeia na serra. E por lá deve estar ainda.
- E ninguém se queixou de que o animal fazia falta na rua?
- Pois, aí é que tem razão. Ainda me aborrecem mais com perguntas: - então o papagaio? Já não fala? O que lhe fez?...
Depois destas explicações, voltei ao meu lugar na penumbra quente do guarda-sol. Agora, apenas, longínquo o som gutural das gaivotas entristecidas, talvez com falta da companhia do velho Louro.
Dois dias depois, a senhora Amélia encontrou-me no mercado, reconheceu-me e disse:
- Sabe, o Louro lá está em Alte. O maroto agora passa a vida a tentar cantar de galo. Para o que lhe havia de dar!...
Na serra não há gaivotas, mas capoeiras! Foi então que me lembrei do velho ditado «em Roma sê romano».
Subscrever:
Mensagens (Atom)