terça-feira, janeiro 24, 2006

Day after

Sentado naquela fria sala, via-os todos de cartão em punho. Avançavam cabisbaixos, cada um na sua vez, como que empurrados por uma secreta obrigação. Não espelhavam no rosto nem uma convicção, nem tão pouco a esperança de que através do seu gesto simples e breve fariam o milagre da transmutação das crises.
Depois chegou a noite, fria, emocionalmente, ninguém aguardou à porta do edifício a concludência dos números. Ninguém manifestou a euforia cartártica após o acto eleitoral. Apenas restou assistir em silêncio ao escorrer dos números nas televisões.
Deixam-se os actos canalhas dos que disfarçaram mal o azedume e passamos à fase seguinte.
Agora é tempo de aguardar e esperar.
Assim, daqui a cinco anos estarei por aqui e virei cobrar do presidente agora eleito aquilo que durante semanas nos prometeu: mais emprego, mais progresso, melhor economia, mais solidariedade,MAIOR PORTUGAL para todos.
E para bem de todos nós, que se cumpra o prometido!

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Alegre a Presidente


Se dúvidas tinha, elas dissiparam-se bem depressa.Nada de novo é de esperar do velho animal político. Do filho de Boliqueime, também se desenganem os que esperam milagres. Eu, por mim, acredito que o país necessita é duma voz crítica, duma consciência limpa, que não deva favores a ninguém, nem que represente aqueles que querem voltar ao poder por portas travessas.
Estar com Manuel Alegre é ter a convicção de que não somos reféns da partidocracia e de que quem tem a ganhar é a cidadania.
Já estamos em tempo de aprofundar a democracia, dando mais voz àqueles que não se revêem nos múltiplos aparelhos partidários, vocacionados a satisfazerem as suas clientelas.
Libertar o Estado dessa pressão será a condição necessária para chegarmos às verdadeiras políticas que sirvam o país e não exclusivamente os grupos afectos ao poder(que se revezam alternadamente).
Por tudo isso, e porque é importante não deixar cair a esperança, faço questão de votar em Manuel Alegre.

sábado, janeiro 07, 2006

guimarães


É sempre com nostalgia que percorro a minha cidade - Guimarães .
Foi aí que os meus olhos camponeses se afeiçoaram à paisagem urbana. Foi aí que contactei com coisas tão simples como o café, a leitura de livros de BD ( sobretudo do selvagem Far West), a ida ao cinema, ao futebol.

Foi aí que comprei o primeiro fato, me submeti ao exame nacional do antigo 5.º ano - actual nono). Aí trabalhei pela primeira vez como professor (na Escola Martins Sarmento) , aí fiz o meu primeiro depósito bancário. Não foi aí que nasci, mas foi aí que me fiz homem.

Por isso, é sempre com orgulho que calcorreio as suas praças, ruas e becos, e olho extasiado as fachadas medievas das suas casas, sinto o pulsar da urbe e venero o seu passado épico.
E porque nela se mantém a autenticidade, o carácter genuíno de uma cidade com alma, para o qual contribuiu
o respeito que o passado e o património arquitectónico merecem às suas gentes, dedico-lhe toda esta admiração.
Para mim foi mesmo aí que nasceu Portugal.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

As novas terminologias linguísticas do ensino básico e secundário

Transcreve-se um excerto duma resposta interessante que um dos consultores (penso) do Ciberdúvidas deu à interpelação feita por um docente:

«Gostaria, antes de continuar, de tecer algumas considerações sobre a nova terminologia (TLEBS), ou melhor, sobre a ansiedade que a sua implementação está a causar. Sem escamotear a necessidade – que não é de hoje! – de formação específica no âmbito da língua portuguesa, ainda bem que há uma nova terminologia que nos põe, a todos, a questionar a nossa língua e o conhecimento que dela – efe(c)tivamente! – temos. Isto tudo para dizer que a grande maioria dos aspectos focados na TLEBS não é nova. Também é bom dizer que nem todos são pacíficos, ou perfeitos ou, sobretudo, inalteráveis. A problemática entre nome e substantivo, por exemplo, já era evidente quando eu me licenciei, em 1985! Muitas das gramáticas que hoje os nossos alunos (e nós!) compram já falam de nome e não de substantivo. E nós temos andado a “enfiar” na cabeça deles coisas como «sintagma nominal». Alguma vez nos terá passado pela cabeça chamar-lhe «sintagma substantival»? Sinceramente, creio que estamos no bom caminho! Estamos a pensar no assunto e a levá-lo para o grupo disciplinar! Que bom! A segunda a(c)ção de formação promovida pela Universidade de Lisboa sobre este tema, em Outubro e Novembro deste ano, passou das cerca de 20 pessoas que assistiram à primeira, em Janeiro de 2002, para próximo das duas centenas. Estamos finalmente a pensar a nossa língua! E isso só pode ser positivo! Regressando ao «adje(c)tivo substantivado», do meu ponto de vista, trata-se de uma expressão que poderá continuar a ser utilizada, pois ela serve para explicitar, de forma clara, um fenó[ô]meno de formação de palavras: a derivação por conversão (até agora conhecida por derivação imprópria). É a existência desta possibilidade, ou deste fenó[ô]meno, que convém ensinar (ou aprender). Por outro lado, em contexto, a palavra ou é adje(c)tivo ou é nome. Se estiver perante um nome que corresponde à nominalização de um adje(c)tivo, como os seus alunos – depreendo da sua mensagem – estão no final do percurso, não lhes faz mal nenhum, antes pelo contrário, atribuir aos conceitos a designação corre(c)ta e dizer que se trata de um nome, formado por derivação por conversão a partir de um adje(c)tivo. Finalmente a bibliografia. Há, neste momento, de que eu tenha conhecimento, três gramáticas de língua portuguesa que vale a pena ter e consultar: A Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, com reimpressões disponíveis no mercado; a Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, cuja 37.ª edição revista e ampliada saiu no Rio de Janeiro em 2001, editora Lucerna; a Gramática da Língua Portuguesa, de Maria Helena Mira Mateus e outras, na sua 5.ª edição, revista e aumentada, publicada pela Editorial Caminho. As três refle(c)tem sobre a língua portuguesa com pormenor e rigor; as mais a(c)tualizadas face à evolução dos conhecimentos lingu[ü]ísticos são as últimas duas, porque foram sujeitas a actualizações já neste milénio. Aquela que mais se aproxima das designações utilizadas na TLEBS é a última. Bom trabalho! Edite Prada ».

Não é que concorde com a globalidade do que diz a autora do texto, devo, no entanto, referir que na minha experiência de professor de Língua Portuguesa já me deparei com um sem número de situações para as quais a gramática tradicional não dá resposta. Não haja ilusões, não é possível considerar o estudo da Língua sem ter por referência os dados que as ciências da linguagem vão acrescentando ( O que seria da Física se os docentes se quedassem por Euclides e não considerassem Newton, já para não falar em Einstein?!).
Mas sejamos realistas, a mera alteração de nomenclaturas (metalinguagens...) não resolve por si os problemas no estudo da Língua (o caso dos famosos «ses»...). Mas também não é uma terminologia que não é tão nova quanto isso que vai alterar a língua. O positivo da situação é o ter-se iniciado um processo. O mal estará em querer terminá-lo por portaria, quando realmente só agora é que começa a ser interessante a discussão.
Fica aqui e, apenas como isso, esta achega.